José Mariano Gago

José Mariano Rebelo Pires Gago (Lisboa, 1948 – Lisboa, 2015) licenciou-se em engenharia eletrotécnica no Instituto Superior Técnico em 1971. Bolseiro do Instituto de Alta Cultura, nesse mesmo ano partiu para Paris onde realizou e concluiu em 1976 o doutoramento em Física. Como físico desenvolveu trabalhos no campo da aceleração e da colisão de partículas e das altas energias.

Em Portugal, colaborou em iniciativas cívicas, sobretudo em campanhas de alfabetização de adultos.

Mariano Gago foi o criador da Ciência Viva, Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, que procura aproximar a sociedade portuguesa da Ciência e dos cientistas, uma considerável mais-valia para o país o que, conjugado com a toda a sua carreira em prol da ciência, esteve na base de utilização da data do seu nascimento para comemorar anualmente, desde 2017, o DIA NACIONAL DOS CIENTISTAS.

Em 1985 foi representante nacional nas negociações de adesão de Portugal ao CERN e, em 1986, fundou o Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), no Instituto Superior Técnico, para mobilizar a comunidade nacional de físicos experimentais de partículas, no seguimento da adesão àquele laboratório.

Ao longo da sua vida política e académica manteve a ligação ao CERN participando ativamente como convidado orador em inúmeras iniciativas de âmbito científico, inaugurações, comemorações de datas importantes, homenagem a cientistas, e outras.

Mariano Gago foi presidente da Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica (JNICT) entre 1986 e 1989. Definiu para esta instituição pública a missão de coordenação, planificação e avaliação da ciência em Portugal, concretizada pelas Comissões Coordenadoras de Investigação e outros grupos de trabalho especializados. Durante a sua gestão foram promovidas as «Jornadas Nacionais de Investigação Científica e Tecnológica», em maio de 1987, nas quais foram lançadas as bases para um primeiro «Programa Mobilizador da Ciência e da Tecnologia» (PMCT), visando a internacionalização da ciência portuguesa, bem como a consolidação de uma cultura de informação e de trabalho em rede, promovida por cientistas e instituições de ciência. Assim, nos anos de 1987 e 1988, o PMCT permitiu o alargamento do apoio aos projetos de investigação e à formação avançada de investigadores portugueses no país e no estrangeiro.

José Mariano Gago foi ministro da Ciência e Tecnologia entre 1995 e 2002, o primeiro ministério apenas com a pasta da ciência e da tecnologia (XIII e XIV governos constitucionais) e entre 2005 e 2011 (XVII e XVIII governos constitucionais). Neste último, com a designação de Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, foi integrada a pasta do ensino superior que deixara de pertencer ao Ministério da Educação no XVI Governo Constitucional (2002-2005).

Enquanto ministro defendeu políticas para a Ciência, a Tecnologia e o Ensino Superior que levassem Portugal a parcerias de desenvolvimento económico e social com os outros países da comunidade europeia, numa estratégia de aproximação, para a modernização da indústria e a redução de dependência tecnológica nacional. A adesão de Portugal ao CERN é disso exemplo, tem sido fundamental na formação dos nossos cientistas e nas parcerias com as nossas universidades e indústrias em projetos de inovação tecnológica.

Considerando fundamental a democratização e qualidade do ensino e da formação para afirmar o sistema científico e tecnológico nacional, estimulou a valorização e internacionalização de investigadores e instituições científicas e de produção científica, e os seus ministérios tiveram papel relevante nos programas de financiamentos dos quadros comunitários de apoio; na dinamização e participação em encontros internacionais de Ciência; na reforma do Ensino Superior – Processo Bolonha;  na criação do estatuto do Ensino Superior Particular e Cooperativo; na avaliação e acompanhamento do Ensino Superior; na reforma dos Laboratórios do Estado; na promoção da Sociedade da Informação; na iniciativa Laboratórios Associados; na definição do Plano Tecnológico Nacional.

Em 1996, no âmbito da atuação do Ministério da Ciência e Tecnologia, foi criado o Programa de Apoio ao Ensino e Divulgação da Ciência e Tecnologia. Para o seu desenvolvimento, foi criada, na Agência de Inovação, a Unidade de Apoio para a Educação Científica e Tecnológica (U.A.E.C.T). Em 1997 passou a Unidade Ciência Viva e em 1998 a Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, associação cultural sem fins lucrativos, gestora dos Centros Ciência Viva, com a missão de promover a educação científica e tecnológica da sociedade portuguesa, especialmente junto das camadas mais jovens e dos alunos dos ensinos básico e secundário, recorrendo a um reforço do ensino experimental das ciências.

O «Livro Verde para a Sociedade da Informação em Portugal» (1997) foi um projeto de iniciativa de Mariano Gago, no qual participaram todos os ministérios, para o estabelecimento das opções estratégicas de modernização e das implicações que a Sociedade da Informação devia ter na definição das políticas de emprego, em todas as suas dimensões.

Grande promotor das Tecnologias da Informação e da Sociedade do Conhecimento em Portugal, através de iniciativas previstas no «Livro Verde para a Sociedade da Informação em Portugal», criou programas emblemáticos, nomeadamente a iniciativa Internet nas Escolas, lançada em 1997 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, do qual era ministro Mariano Gago, e que tinha como objetivo assegurar a instalação de um computador multimédia e a sua ligação à Internet na biblioteca/mediateca de cada escola do ensino básico e secundário. Assim se generalizou o acesso às novas tecnologias com a utilização de computadores e internet nas escolas. Iniciativas determinantes de concertação do conhecimento da história, dos processos e métodos científicos, da educação e da divulgação científica em Portugal.

Das obras que escreveu destaca-se: Homens e ofícios (1978); Manifesto para a ciência em Portugal (1990); O futuro da cultura científica (1994), nas quais defendeu uma estratégia paradigmática para a educação, a internacionalização, a comunicação e a monitorização da ciência, na defesa da ciência e da tecnologia como base do conhecimento e fundamental para o desenvolvimento humano, social e civilizacional.

Em finais de 2002, Mariano Gago retomou a carreira docente no Instituto Superior Técnico, por pouco tempo, pois, tal como já foi referido, entre 2005 e 2011, foi novamente chamado à vida política. Em 2011, regressou ao LIP e ao IST como professor catedrático, tendo integrado a Comissão de Honra para as comemorações do Centenário deste instituto no mesmo ano.

Na qualidade de ex-ministro participou a nível internacional, em conferências, comités, reuniões, grupos de trabalho, conselhos de administração e conselhos consultivos.

Era presidente do LIP à data do seu falecimento em abril de 2015.

Fontes:

Arquivo de Ciência e Tecnologia: Espólio Mariano Gago [PT/FCT/EMG].

Idem: Processo individual de José Mariano Rebelo Pires Gago [PT/FCT/JNICT/DSGA-RPE-SP/001/0031/132].

Cabral, J.P. (2011). Entrevista a José Mariano Gago. Análise Social, 200(46).